A grande Guerra.
Existe uma recusa em se abraçar a marcialidade como se, ao aceitá-la, se estivesse normatizando a violência dentro de sua vida. Nada mais equivocado. Existe uma certa guerra que se trava entre a existência pessoal e certas condições do mundo. Isto é, nem todas as condições do mundo são favoráveis à nossa existência, e não cabe a nós escohermos com quais iremos nos deparar. Em outras palavras, a vida geralmente não pede licença para nos trazer imensos desafios.
Geralmente destes desafios citados acima não temos como fugir, e a marcialidade, enquanto visão estratégica diante das dificuldades, só vem a ajudar ainda mais. Inclusive, parece que o inexorável é aceito com mais condescendência, é o que nos ensina o ditado popular - o que não tem remédio, remediado está. Mas e quando os desafios são resultados de nossas escolhas pessoais e efeitos diretos de nossas ações?!
Nestes casos parece que a marcialidade se torna ainda mais pertinente, porque nestas searas você é seu próprio inimigo. Esta é a Grande Guerra do título, uma ideia oriental que trata exatamente dos desafios de sua vida íntima, aqueles conflitos cujos mortos não são corpos externos, mas ideias, concepções de mundo, modelos de conduta.
Um exemplo destes desafios é se propor a escrever sobre suas experiências e visão de mundo sobre o que acontece aqui no planeta Terra. Nada mais ameaçador do que um papel em branco e a necessidade de preenchê-lo. Existe nesta situação específica um conflito que não se resolve com os punhos, nem com pólvora.
Sobre este desafio específico, qual seja, parar para escrever, tenho duas coisas a dizer. A primeira me parece óbvia: o pensamento dentro de sua cabeça trabalha em rede. Somos capazes de pensar um montão de coisas sobre determinado assunto em pouco menos de alguns segundos. Isso porque o pensamento dentro da cabeça traz sua matéria amarrada em rede, em vários níveis. Mas a escrita trabalha com o pensamento linear - nas linhas do papel não cabem todas as elocubrações que ocorrem na mente enquanto cogita.
Este é o primeiro desafio, transformar uma concatenação de ideias que se dá de forma multidimensional para as linhas do papel. A segunda: se trata da impressão de que é preciso você já saber de antemão tudo o que vai escrever, e como escrever. De uma certa maneira que lembra a onisciência do texto sequer antes mesmo de escrevê-lo. Claro que uma intenção de trazer de dentro para fora de sua cabeça há de haver, mas como as ideias irão gerar o texto é outra história, e é sobre isso que comento agora. Não me lembro qual poeta certa vez falou: não penso para escrever, escrevo para pensar. Por isso esse segundo desafio se assemelha àquela situação em que as crianças nem provaram do alimento e já dizem, não gostei.
Para se começar a escrever basta isso, começar. Este blog se pretende um lugar em que eu, Fábio Assuf Martins, irei praticar meu kung fu através da elaboração de minhas ideias e minhas vivências, tanto as que se passam no meu cotidiano e, de algum modo, estimula minha marcialidade, como, e principalmente, aquelas que for experimentando junto com minha família Kung Fu e nossa SiFu, mestra Sênior Ursula Lima, matriarca da família MoyLin Mah.